Considero a nossa Arte como uma ciência cujos fenômenos estão diretamente conectados com a experiência do artista em íntima relação com o mundo que o cerca, sendo este mundo sempre subjetivo, independente da ilusória objetividade.
Esta inter-relação artista/mundo gera um ponto de vista, um modo próprio de expressão que se manifesta através do fenômeno conhecido como a Arte, um evento altamente particular mesmo quando inserido num movimento aparentemente geral.
Nossa Arte é, portanto, antes de tudo, um estado de ser que provoca e instiga ao fazer. O objeto da Arte um ilusório ponto final de um movimento que se prolonga e debate eternamente na ânsia pela manifestação da existência do artífice em si mesmo.
Concluo, portanto, que a principal obra do artista desta ciência não é outra senão ele mesmo. Esta obra do eu sou não é, de forma alguma, um fenômeno passivo onde o eu se encontra plenamente dependente ou aprisionado por fatores externos. Antes, é uma interação entre o externo e interno, o macro e o micro, um bailar de existência cujo compasso é, ou melhor dizendo, deveria ser, marcado pela acurada observação e livre arbítrio do próprio artista.
Para se considerar o fazer da Arte deveria ser primeiramente compreendido que o produto final, objeto-arte, deve ser sempre o resultado da vontade do observador e diretor do drama representado, o eu sou o que sou artista e nada mais. Pois a Arte Magna é em sua essência um movimento anárquico e libertário, aprisionar é condicionar.
Criação, o ato fundamental do artista, demanda a libertação do eu em relação ao outro e tudo aquilo que o cerca, não importando quão alto seja o preço a ser pago pelo ato de criar.
Da máxima obra-núcleo, a essência libertária do artista magno, surgem os diversos objetos, idéias, palavras e atitudes que permitem ao mundo classificar o sujeito como realizador da Arte, manifesta-se a obra artística. Mas a obra contém e conterá sempre apenas o parcial, uma pequena parte do imenso, intenso e maravilhoso murmurinho que constitui o rico universo interior do artista, um universo que contém em si milhares de possibilidades, uma possibilidade de manifestação a cada passo, a cada gesto. A obra de Arte Magna representa apenas a perspectiva temporária de uma face cujo colorido e formas jamais será totalmente revelado, pois as ondulações do ser interno somente ao ser interno se revelam. E eis aí a grande angústia de todo verdadeiro artista. A experiência de Prometeu que sucumbe ao desejo da revelação integral do fogo eterno aos olhos do mundo e se vê diante da dicotômica condição do mundo dos espelhos onde o que se deseja revelar não se revela, mas vela. O drama de todo o criador que diante da necessidade da manifestação se vê diante da angústia de limitar e obliterar na matéria aquilo que desejaria ver expandido e liberto num infinito espaço de estrelas. O fígado do artista, tal qual o de Prometeu.
É sábio compreender que todo ato de manifestação criadora contém em si a semente de morte do filho gerado e que a cada alegria da chegada corresponde uma lágrima da partida.
Autora: Soror Babalon