Eu lhe disse, comentando sobre um passado recente, que aqueles se degradavam com drogas e sexo. Ele me respondeu rindo que, atualmente, “sexo, drogas e rock and roll” eram nada mais do que fontes de prazer. Eu retruquei que talvez, mas apenas para aqueles que não sabem exceder!
Ele me olhou num perplexo e silencioso vazio e com vazio silencioso eu lhe respondi. Partimos cada um para sua própria casa, eu tomada de prazer, ele numa espécie de frustração coroada pela dúvida.
Afinal de contas, o que é o prazer?
Não me cabe oferecer respostas, mas suscitar perguntas. Não me cabe a certeza, mas com certeza provocar a dúvida. Sou um anjo mau, disto não duvido e nem deveriam duvidar os demais, meu gozo é estremecer a alma no mais devasso terror da incerteza e, ainda assim, prazer.
Existe algo além, mesmo em se falando de “sexo, drogas e rock and roll”. Existe um âmbito de gozo intensamente mais prazeroso, equidistante do próprio centro, mesmo quando em comparação com o usufruto de um corpo, de uma droga, do ressoar de um som. Sensações das quais se deve ousar ir além, exceder para alcançar a essência do prazer, o âmago do ponto máximo da existência que transborda para a não existência.
Tenho observado o mundo. É um paraíso onde muitos se degradam em nome do máximo deleite e alardeiam aos quatro ventos que são hedonistas, uma galardão que utilizam para encobrir a sua própria cegueira e estupidez. Um verdadeiro hedonista jamais atentaria contra o seu veículo de prazer, ao contrário, ele o refina, excedendo sempre em favor de mais.
Cegueira e estupidez são proibitivas de Hedon, onde se busca o máximo pelo mínimo. Hedon, é a raiz grega que designa a unidade do prazer, e dolor, seu oposto, assinala a unidade da dor e do desprazer. Dissolva a ambos, alcançando uma outra unidade e Hedon abrirá suas portas em todo o seu arrebatamento.
Se a origem da tua fonte de prazer é a dor e o resultado final da mesma dolor que estimula a uma fuga veloz, deves saber que isto não é Hedon. Em tua ânsia te afastas-te do reino, volta, antes que tenhas esquecido por completo a rota do gozo que leva ao delicado palácio do permanente regozijo.
Tudo o que eleva e refina pode ser considerado como verdadeiro prazer e impulsiona sempre a um saudável descortinar do além. Mas se as tuas atitudes grosseiramente degradam a tua natureza e velam aquilo que deveria vir após, então o ponto é dolor. Bane esta odiada megera da tua própria vida e prossegue livre e em paz até o ponto que reside no centro do teu ser, fonte emanante do teu impulso em direção a Hedon, este sim, prazer do mais puro enlevo e permanente êxtase.
O hedonista autêntico procura um estado de permanente liberdade. Um estado que lhe possibilite obter a mais intensa ejaculação do seu próprio ser a partir das coisas mais simples e naturais. Então isto é o seu gozo e a sua criação, sendo a cria uma fonte de ainda mais intenso êxtase, o universo criança gerado pelo e para o regozijo dele e de quem mais deseje disto compartilhar. Isto é Hedon, o extático caos que precede aquela sagrada criança, filha do enlace da lascívia com a liberdade extrema da manifestação na dualidade.
O prazer não está no objeto desejado, mas na experiência daquele que deseja. Melhor! Está naquele que se vê tomado pela ausência de desejo e ainda assim experimenta na plenitude da sua própria unidade em conjunção temporária com a unidade do outro. Na realidade de Hedon a temporalidade não ameaça as delícias.
Se tua vontade se encontra cativa de um objeto cuja relação te limita pela obtenção do prazer, então isto não é prazer, mas necessidade. A filha da necessidade é e será sempre dolor, o oposto daquilo que buscas.
Cuida então, oh hedonista, de manter a tua mais absoluta liberdade para que possas usufruir de todas as coisas de sensível arrebatamento sem que nenhuma delas erga as grades da tua prisão. Assim fazendo obterás sempre o máximo contentamento na existência e fora dela, o prazer absoluto do Ser.
Autora: Soror Shaitara