Q.I. Demais

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Vou lhe dizer uma coisa… Q.I. demais pode ser um problema sério. Não… Vamos com calma… Não estou aqui fazendo uma apologia da imbecilidade, apesar da grande frase (se não me engano, do Barão de Itararé) que diz que “imbecil não sente tédio”. O que estou tentando passar aqui é uma outra coisa, bem diferente. É bom ser inteligente. Mas ser inteligente “demais” pode ser complicado. Principalmente para alguém que busca o Caminho Iniciático.

É claro que cultura e raciocínio não fazem mal a ninguém. Quanto mais (sempre será) melhor. A grande armadilha para o Iniciado é quando ele começa a encantar-se com toda a sua Maravilhosa Cultura® e seu Privilegiado Intelecto©. E neste momento o sujeito começa a ver a face do Grande Iluminado todo dia no espelho, quando vai se pentear. Mal sabe ele que tornou-se, sem saber, um Grande Iludido, isto sim. Pois agora toda a sua vida irá girar em torno de dois pontos:

  1. aumentar ainda mais suas já privilegiadérrimas capacidades intelectuais e;
  2. exibir estas capacidades para que todo mundo possa reconhecê-lo como um Grande Intelectual, Conhecedor de Todos os Caminhos e outras baboseiras mais. Sim, porque de que adianta ter uma mente tão espetacular se ninguém sabe disto?

E aí começa sempre a mesma história. No início o sujeito já vai arrebanhando uma porção de gente que fica estupidificada por tão imenso saber, achando que ali, naquela figura mais–que–humana está o protótipo do Mestre. Mas pouco a pouco aquela mente que antes parecia uma verdadeira cornucópia de sabedoria vai mostrando–se um engodo. Pois o suposto Sábio não vai muito além de repetir sempre os mesmos argumentos, parafrasear autores obscuros e manter um sorrisinho de indisfarçável superioridade. Ou seja, é uma casca vazia.

Por que isto? Simples. Porque este Monstro Intelectual é, na verdade, um mero cachorrinho de seu próprio ego. Acha–se, é claro, um pastor alemão mas não passa de um poodle de madame. Sua mente passou a obedecer exclusivamente a seu ego, o qual alimenta-se da admiração de si mesmo e dos que ainda não perceberam a vacuidade por trás do Super-Sábio. E com isto o ego passa a agir com uma terrível voracidade, posto ter descoberto uma excelente fonte “alimentícia”. Desta forma o Super–Sábio irá buscar polir cada vez mais sua erudição, catando pensadores cada vez mais obscuros para parafrasear, buscando temas crescentemente mais estranhos para poder falar, tudo em uma busca cada vez maior de uma auto–admiração e da admiração alheia.

Tudo por seu ego.

O resultado final disto é um círculo vicioso onde o intelecto será o objetivo final e o meio da vida do ex-Iniciado. “Ex”, sim! Porque a esta altura ele já deixou de lado o Caminho Iniciático há muito tempo, pois este não é o caminho do intelecto. É também por este mesmo motivo que toda a erudição apresentada por este sujeito é oca.

O Caminho Inciático é o caminho do Entendimento. É a compreensão que se obtém sem a intervenção do Intelecto, com a intuição e com o coração. Sem este entendimento não existem palavras sábias que sirvam para nada a não ser para serem papagueadas em prol de uma imagem falsa. O intelecto não é capaz de nos trazer a essência destes pensamentos, apenas sua forma. É como um acadêmico tentando mostrar os méritos de um poema através de uma equação algébrica. Ridículo, não.

Mas não vamos ser doidos de sair simplesmente menosprezando o intelecto. Não é também por aí O intelecto é uma ferramenta importante que tem a sua utilidade. Mas é uma utilidade específica dentro deste Caminho. Leva–nos até um determinado ponto mas não consegue ir além. Mas dali por diante temos de confiar em outra ferramenta: nossa intuição. Enquanto o intelecto é a ferramenta que nos permite a análise e a síntese, a intuição é a que trabalha com informações mais sutis. O truque é que sabendo fazer uso de ambos podemos ter duas ferramentas importantes para  progredir em nossos Caminhos. Porém se não soubermos dosar a coisa iremos cair na armadilha do “QI demais” e passaremos a ser meros pavões, que exibem suas penas sem olhar para seus pés. Pés que não nos levam a lugar nenhum.

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