Gerald Gardner e a influência de Crowley no reviver da bruxaria

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Mesmo apesar muitos dos magos e bruxos de nossa atualidade negarem que Thelema e Crowley tiveram influência na renovação da bruxaria e na criação da Wicca, essa pesquisa mostra o contrário.

Inspirado pelas conversas que tive com duas amigas sobre a famosa “Pink Wicca” e a forma que muitos magos e bruxos estão lidando com a bruxaria atual, não tendo o mínimo de instrução ou curiosidade para ler sobre os precursores de seu sistema, resolvi fazer esse pequeno artigo.

Vamos começar falando um pouco sobre a vida de Gardner:

Gerald Gardner

Gardner é de origem Inglesa, nascido em 13 de Junho de 1884, nas proximidades de Liverpool. Ele mesmo afirma que a bruxaria sempre esteve presente na sua família desde Grissel Gardner, que foi queimada na fogueira como feiticeira em 1610, remontando até mesmo a sua Avó, que também teria sido feiticeira, como outros parentes de sua linhagem.

Sofrendo muito de asma, Gardner foi morar em diversos locais com clima ameno juntamente com a empregada da sua família, Josephine “Com” McCombie. Morou nas Ilhas Canárias, Accra, Ilha da Madeira e Ceilão (atual Sri Lanka).

Voltando mais tarde para Inglaterra, casou com uma dama chamada Donna durante 33 anos. Donna nunca fez parte de suas práticas (bruxaria ou feitiçaria), assim desmistificando o fato de alguns livros sobre Wicca serem de sua autoria.

Witchcraft Today

Esse é um dos livros mais conhecidos do autor, que traz uma narrativa como a bruxaria sobreviveu até os dias atuais, alguns de seus ritos e inspiração.

Neste livro, vemos que Crowley e Gardner pareciam ser amigos próximos. O livro não traz detalhes claros de como ambos se conheceram. Alude, apenas, a certo momento em que Gardner pretendia mostrar que o “círculo mágico das bruxas” diferia de outros métodos e que a única pessoa que poderia ter criado algo parecido seria Aleister Crowley. Quando Gardner encontra com Crowley, ele estaria mais interessado em escutar se Gardner já tinha reescrito alguns desses métodos usados pelas bruxas. Gardner revela apenas que  ingressou muito jovem nas práticas antigas e que não diria se tinha reescrito algo.

Em outro momento, Gardner cita que Crowley estava interessado em cultos fálicos, assim como os membros de um lugar chamado Hellfire Club. Embalado nesse contexto, ele cogita que Crowley pertenceria ao “culto das Bruxas” e que certamente usou desse “culto” para elaborar rituais.

Temos também outras menções a Crowley, como a alusão à cerimônia da Missa da Fênix, na qual se corta o próprio peito e se faz uso desse sangue. Gardner usou esse ritual para defender o argumento de que não era estritamente necessário matar algo para utilização de sangue.

Ye Bok of ye Art Magical

Para muitos, esse nome é totalmente desconhecido. Já quando falamos do famoso “Livro das Sombras” gardneriano, é algo de reconhecimento instantâneo. Na verdade, ambos são quase o mesmo livro. O Livro das Sombras é uma versão resumida do Ye Bok of Ye Art Magical.

O BAM (Ye Bok of Ye Art Magical) é um compilado de materiais que contém desde magia cerimonial salomônica até cultos relacionados às bruxas. Esse livro é a base de toda Wicca gardneriana e nele é onde encontraremos as maiores evidências que Crowley foi grande influência para Gardner.

A primeira parte do BAM traz passagem quase completas da parte IV do Book 4 e também da primeira parte.  Há também muitas passagens de “A Árvore da Vida”, do Regardie.

Na segunda parte nós temos, logo no início, uma descrição da bênção ao Pão e ao Vinho que consta na parte VI do Liber XV (a Missa Gnóstica da O.T.O.) e um conjunto de extrações consideravelmente iguais a do The Equinox Volume I Nº III.

As partes três e quatro do BAM são as que mais chamam atenção: elas contêm seguimentos ritualísticos adotados para a Wicca que foram retirados na íntegra da Missa Gnóstica, do Livro da Lei, Supremo Ritual e do The Equinox volume 3, parte 1 (The Blue Equinox). Destaca-se, por exemplo, a citação completa pela Sacerdotisa dos versículos do Livro da Lei, com a omissão do verso 62 da fala de Nuit, a frase que Gardner transforma em característica fundamental de seu sistema: “Faze o que tu queres desde que não prejudiques a ninguém”, sua interpretação pessoal de “Faze o que tu queres será o todo da Lei”.

E também quando o Sacerdote recita, ainda na Missa Gnóstica:

Oh, segredo dos segredos que estás escondido na essência de tudo o que vive, nós não Te adoramos, pois aquele que adora também és Tu. Tu és aquilo, e aquilo sou eu. Eu sou a chama que queima em todo coração humano, e no âmago de cada estrela. Eu sou a Vida e o doador da Vida; entretanto, o conhecimento de mim é o conhecimento da morte…

Gardner e a O.T.O.

Gerald Gardner foi mestre do corpo local da O.T.O. na Inglaterra e durante um curto período foi chefe da O.T.O da Europa, logo após a morte de Crowley.

Já foi alegado que a carta de Crowley elevando Gardner ao VII ° e autorizando o mesmo a realizar iniciações em nome da Ordem seria forjada, pois Gardner teria escrito o conteúdo da carta e Crowley assinado. No entanto, o site www.geraldgardner.com tem uma galeria de fotos que mostra a carta em seu estado original como prova de sua veracidade.

Considerações Finais

Muitos livros de Gardner em português não são realmente de sua autoria ou de sua esposa. Podem ser de membros da Wicca gardneriana ou de outras pessoas e particularmente considero esse livros como as fundamentais causas de confusão sobre o assunto.

Uma breve análise dos fatos já ilustra a grande influência de Crowley sobre os escritos do pai da Wicca. Eu espero que essa leitura seja de auxílio para aqueles que tem interesse pelo tema e agregadora de conhecimento para os que desconheciam essas informações.


Autor: Frater Kairós

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