As Folhas de Bambu

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Existem coisas que não podem ser explicadas,
mas apenas vividas e refletidas…
O. Naob

Se concentrarmos nosso olhar num grupo de folhas do bambu iremos perceber que o encontro daquelas linhas constrói figuras que são comuns no mundo manifesto, assim, encontramos no bambu rostos de pessoas, imagens de feiticeiros, carros, casas etc. O mesmo tipo de fenômeno ocorre quando olhamos a formação das nuvens no céu e surgem diante de nosso olhar, aviões, rostos, partes do corpo humano, deuses, anjos etc. No entanto, aquelas imagens vistas não se encontram realmente lá, são apenas projeções.

Estas projeções surgem quando a minha mente estabelece correlações entre aquelas simples linhas e o arquivo de imagens que trago em minha memória. Esta função de correlacionar o que está lá com o que se encontra aqui é conhecido como “faculdade imaginativa”. É deste modo que mesmo nós, quando vistos ao mesmo tempo por vários outros olhares, não somos nunca o mesmo. Para cada olhar, uma característica em especial origina uma manifestação em particular e sempre em conexão com a habilidade imaginativa daquele que observa.

Isto me leva a entender o mundo como uma projeção da mente em que a faculdade imaginativa se utiliza de ferramentas cognitivas como os sentidos e, a partir de uma integração das informações que nos chegam dos mesmos, realiza o ato de criação de tudo aquilo que nos é conhecido.

O mundo é então uma representação onde nós, constantemente, interpretamos a nós mesmos. Aquilo por nós conhecido como “figura humana” uma construção imaginativa que surge do casamento casual de linhas abstratas do universo com o arquivo de memórias que herdamos ou aprendemos com nossos antepassados, tanto longínquos quanto próximos.

Nenhuma imagem que vemos no mundo e que reconhecemos como realidade está realmente lá. O que equivale a dizer que experimentamos a existência dentro da não existência. A realidade apenas uma fantasia ou sonho a mais, à qual, dotamos de uma maior ênfase de concretização de acordo com a necessidade imanente de um momento em particular. Portanto, aquilo que consideramos como realidade existente nada mais é do que diferentes níveis de intensidade e densidade de sonho.

Tudo o que se encontra ao nosso redor é agora, como sempre foi, a Noite Eterna e Infinita, o Negro Vazio Primordial que, vez por outra, é cruzado por pequenas partículas de energia. Estes pequenos átomos traçam trajetórias de luzes lineares em seu percurso, fazendo surgir a cada pequeno segundo, em meio à Eterna Noite Negra, milhares e milhares de linhas luminosas, sobre cujo traçado cruzado projetamos o nosso arquivo mental e damos forma aos nossos sonhos.

Mas quem está olhando? De quem foi o primeiro olhar que permitiu ao mundo a tomada de forma? a queda do mundo das idéias para o mundo reconhecido como manifestação?

Suponhamos que no princípio dos tempos, desde que tempo é apenas uma condição relativa do sonho, houvesse apenas uma mente solitária e superna observando o cruzar silente daqueles átomos. Do mesmo modo que nós, desde que somos a imagem do Pai, aquela mente primordial e solitária começou a construir formas e imagens a partir daquelas linhas, dando a elas nomes e originado milhares de conceitos dali. E a complexidade e abundância daquelas imagens e conceitos deram nascimento à coisa toda que nós conhecemos como mundo ou universo manifesto. Então o mundo nada mais seria senão ilusão, a ilusão de alguém que nós chamamos de Deus.

Mas o estado de ilusão é um produto do sonho e o sonho é uma condição do ato de dormir. Então deus está dormindo e sonhando com aquilo que nós chamamos de existência, sonhando sobre o todo e a parte, cada um de nós. Assim, cada manifestação do ser como humano nada mais seria do que uma emanação do sonho de deus, e como emanações do divino também nós seríamos divinos.

Mas vamos ousar ir adiante e imaginar a resposta para a seguinte questão:

O que irá acontecer se um dia deus despertar do sonho?


Autora: O. Naob

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